Campos do Jordão: natureza, charme e aventura

Olá, viajantes!

Este é meu primeiro post, então resolvi contar sobre algumas ótimas experiências que tive ano passado, numa viagem maravilhosa para Campos do Jordão. Primeiro, algumas informações básicas. Eu fui com meu marido, Júlio César, nas férias de julho de 2016, então peço desculpa se esquecer algum detalhe, já que tudo aconteceu há quase um ano.

Como ficamos hospedados durante a semana, de segunda a sexta, conseguimos preços melhores, já que julho é alta temporada por lá, e alguns preços literalmente triplicam no fim de semana. Ficamos hospedados na pousada Caliman, um lugar simpático com ótimo custo benefício, bom atendimento e banheira de hidromassagem no quarto.

A cidade fica na Serra da Mantiqueira no estado de SP, o que significa que vários lugares, inclusive a pousada, tem bastante rampas e escadas, então, em caso de deficiência física, é bom se informar na pousada ou no hotel antes de fechar. O clima é bem frio, podendo chegar a 0 grau nas noites de inverno – nós pegamos quase isso, mas o quarto tinha aquecedor. De dia fez um sol bem gostoso, que ia embora no meio da tarde.

O transporte público por lá é bem escasso, inclusive para os lugares turísticos, o que significa que você tem que separar um dinheiro para gastar com táxi, que não é muito barato, até porque alguns lugares ficam distantes. Não sei se o Uber já chegou lá. A impressão que eu tenho sobre cidades turísticas nos interiores é que se pressupõe que todo mundo vai de carro, por isso ônibus não é necessário, e infelizmente nós cegos acabamos tendo que pagar literalmente o preço.
Um amigo, também cego, nos indicou o seu Carlinhos, um taxista muito gente boa, com quem nós fizemos todos os passeios. Ele também nos ajudava a decidir qual roteiro era melhor, considerando a proximidade de um local com outro. Nós seguimos algumas recomendações dele e realmente funcionaram.

Para chegar na cidade em si, como moramos na cidade de Campos, fomos para o Rio à noite, dormimos por lá e no outro dia pegamos um ônibus para  Taubaté e de lá para Campos do Jordão. Não sei se ainda é o mesmo, mas gostamos do restaurante da rodoviária de Taubaté, onde almoçamos. Dá para pesquisar pela internet qual o melhor itinerário, dependendo de onde você estiver partindo.

Pontos turísticos

A cidade tem muitos parques e outras atrações ligadas à natureza e à vista da cidade. Como não ia dar tempo de fazer tudo mesmo, escolhemos os lugares combinando o que queríamos fazer com o que achávamos que seria acessível ou que desse para curtir sem enxergar, o que não incluiu os mirantes, a casa de xilogravura  e o borboletário, por exemplo. Vou contar um pouquinho dos lugares onde fomos e adoramos todos!

Amantkir

O Amantkir foi concebido para reunir jardins inspirados em diferentes países, como China, Japão, Inglaterra, entre outros. Nós solicitamos um guia quando chegamos, e fomos prontamente atendidos. Aliás, não tivemos problemas desse tipo em lugar nenhum: todos disponibilizaram funcionários para andar conosco e nos mostrar o que queríamos, com a maior naturalidade. Além da diversidade de plantas e árvores, do clima agradável do lugar, tem algumas atrações peculiares, como o labirinto cujas paredes são feitas de plantas, onde a gente entra e tem que achar a saída. Não conseguimos! Tivemos que nos render e pedir ajuda ao funcionário, ou íamos perder o dia inteiro lá dentro, rs. Mas isso não tem a ver com a cegueira, pois todos os videntes que encontramos lá dentro estavam perdidos também. Fizemos a visita a este parque durante a manhã, e foi suficiente. É muito bom para conhecer árvores e plantas que geralmente não vemos por aí. Eles têm uma loja de souvenirs também, acho que foi lá que comprei um queijo muito bom.

Mosteiro das Monjas Beneditinas

Chegamos lá no final da tarde assim que chegamos na cidade, para aproveitar o horário em que as irmãs fazem a oração das Vésperas na capela, com canto gregoriano, que é aberta ao público. Fomos recebidos pela irmã Estéfane, um amor de pessoa, que nos mostrou as plantas, o laguinho com uma ponte, nos descreveu muitas coisas e nos contou outras, como o trabalho que elas fazem com as mulheres carentes da região. É um lugar muito agradável, que transmite muita paz, e vale a pena mesmo que não dê pra curtir o visual. Tem muitas plantas por lá, algumas que não conhecíamos por serem mais próprias de climas frios, e também algumas mudas para vender. Nós compramos por R$2,00 uma plantinha chamada alisson, muito cheirosa, que achamos que não iria sobreviver ao calor do Rio, mas ela está viva até hoje na casa da minha sogra. Lá também tem uma lojinha onde se pode comprar artigos religiosos, de todos os preços, alguns artesanais, feitos pelas irmãs, ou biscoitos e geleias, também feitos por elas. Comprei algumas coisas, e fica a dica para a geleia de morango!

Parque Tarundu

Este é um lugar para quem curte uma vibe mais aventureira. Eles têm arvorismo, tirolesa, arco e flecha, bugre, orbit ball, patinete, etc. Nós já fomos preparados psicologicamente para enfrentar alguma resistência, para ter que explicar que somos cegos mas sabemos nos virar, que já fizemos arvorismo e rafting na vida, que só precisamos de um guia, e etc etc etc. Mas não precisamos de nada disso! Júlio ficou com vontade de dirigir o bugre, que é um carrinho conversível em que você dirige numa pista oval fechada, e começou a preparar toda uma argumentação de que se o funcionário fosse do lado dele, no mesmo carro, tudo daria certo, mas antes dele precisar dizer qualquer coisa, eles foram logo dizendo que tudo bem, podíamos dirigir à vontade. Então fomos, cada um com um funcionário do lado, no mesmo carrinho, dando as coordenadas, e foi bem divertido! Não fizemos arvorismo nem tirolesa lá porque já tínhamos feito antes, futuramente pretendo escrever sobre isso. Fizemos a cavalgada, que basicamente funciona pois um cavalo segue o outro, então o cego não precisa guiar o animal. Se trata de uma trilha padrão que os cavalos estão acostumados, então eles seguem o cavalo do funcionário. Você só tem que superar o medo de cavalgar em si, coisa que eu ainda não consegui totalmente quando ele começa a trotar. Mas é uma sensação de liberdade muito interessante! A coisa mais louca do dia foi o orbit ball. Imaginem uma bola inflável e gigante. Ela tem duas camadas, para que possa ter um vão no meio, por onde duas pessoas entram. Essas duas pessoas, no caso eu e Júlio, ficamos lá dentro, com mãos e pés presos pelo equipamento, em cima de um morro não muito íngreme. Então o funcionário empurra a bola… e ela sai rolando morro abaixo com a gente lá dentro! É uma mistura de desespero e prazer que não dá para explicar! Eu faria de novo. Almoçamos no restaurante do parque. A comida não é   muito barata, mas é a única opção, é gostosa  e o atendimento foi ótimo. Depois do almoço, Júlio pediu para ver o arco e flecha. Não valia a pena pagar pela atividade, porque ele só queria saber como se fazia para atirar, como um vidente faria com os olhos. O funcionário continuou encorajando para que ele tentasse, mas não rolou acertar o alvo, e mesmo sendo só pra ver como era, o funcionário continuou insistindo para que ele tentasse de novo. Enquanto em alguns lugares a gente tem que quase implorar pra ter uma chance de ser um turista normal, lá eles insistiam para que a gente participasse! Eu fui andar no strike, que parece um patinete um pouco maior e mais alto. Você vai dando impulso com o pé e depois fica com os 2 pés em cima do veículo e vai guiando com o guidão. Mais uma vez, ninguém achou que aquilo seria um perigo fatal e eu matei a saudade do meu patinete da infância.  Eu não lembro dos preços dos pacotes nem das atividades individuais, mas não é nada exorbitante, e vale muito a pena!

Bosque do Silêncio

Foi o lugar onde escolhemos passar nossa última tarde na cidade, de lá fomos direto para a rodoviária. Foi uma dica do seu Carlinhos do táxi, e super valeu a pena. É um lugar para se fazer pequenas trilhas, à pé ou de bicicleta, contemplando a natureza e a tranquilidade do lugar. O funcionário fez as trilhas a pé com a gente, nos mostrou algumas árvores mais exóticas, tirou fotos, etc. Eles tinham uma tirolesa também, que eles diziam ser muito rápida, muito boa, e… nós acabamos fazendo, e realmente ela era diferente da experiência que já tínhamos tido em Porto de Galinhas. Você tem que colocar um equipamento preso à cintura e às pernas e um capacete, aí sobe uma escadaria feita no morro. Lá em cima tem uma plataforma de madeira onde prendem
seu equipamento ao dispositivo ligado ao cabo de aço, de forma que você fica preso. Aí é só se soltar e descer! é como se você estivesse escorregando no ar, meio voando, e estava um vento de fim de tarde super agradável, e eu consegui sentir meus pés tocando nas copas das árvores. Foi delicioso! Eles também têm um centro de massagem e relaxamento, mas nós não utilizamos. Também tem dois campos para paintball, que é aquela brincadeira que as pessoas atiram umas nas outras com armas que soltam tinta, no meio de alguns obstáculos, uma coisa que, na minha opinião, não proporcionaria muita diversão para cego, já que você tem que mirar, acertar, se esconder, saber onde estão seus amigos e inimigos, tudo isso num lugar desconhecido e cheio de coisa no caminho. Então pedimos para nos mostrarem como é o campo, como são as armas, só de curiosidade, e o funcionário também foi bem atencioso. Por fim, pedimos um lanche na lanchonete de lá que estava delicioso. Fica a dica para o strudel de maçã. Então, seu Carlinhos veio nos buscar e fomos para a rodoviária desejando poder voltar qualquer dia.

Festival de Inverno

Julho é o mês do festival de inverno, em que quase todo dia tem várias apresentações musicais pela cidade, gratuitas ou bem baratas. Nós escolhemos assistir à orquestra sinfônica, tenho quase certeza que era a da USP, cuja apresentação foi feita num auditório que fica no mesmo prédio do Museu de esculturas Felicia Leirner. Então se você for visitar a cidade no inverno, procure pela programação do festival! Como fomos à noite, o museu estava fechado, e como era longe da nossa pousada, achamos que não valia à pena pagar, no outro dia, quase R$50 de táxi para voltar lá, sendo que, pelas descrições, provavelmente aproveitaríamos pouca coisa do museu, então fomos ao Bosque do Silêncio. Sei que eles estão fazendo um trabalho para turismo acessível para cegos no museu, mas ainda não está pronto.

Centro da Cidade, Compras e Gastronomia

Campos do Jordão tem um centro turístico, com os restaurantes mais badalados, as lojas de chocolates e lojas de roupas e calçados. É de lá que sai o teleférico e o passeio de trem, mas nós resolvemos não ir a nenhum. Também não fomos à famosa cervejaria Badenbaden, porque não curtimos cerveja, mas é um dos pontos turísticos mais procurados de lá. Tem também o centro comercial, que tem as lojas mais comuns, onde os moradores da cidade costumam frequentar. Lá também tem restaurantes bons, que costumam ser mais baratos que os do centro turístico. Nós comemos no Nona Mimi, um restaurante italiano maravilhoso, e com preço razoável! Recomendamos muito! Nós também tivemos uma noite de fondue, mas eu não vou lembrar o nome do restaurante… Inclusive, alguns restaurantes não aceitam cartão, então é bom perguntar antes para não ter surpresas. Este post já está ficando enorme, então vou resumir como é o esquema do fondue. Você tem alguns tipos de carne, já em pedaços, vários molhos e uma panelinha com queijo derretido, onde pode molhar a carne também. A funcionária nos disse qual pote de molho era o que, quais eram as carnes, nós nos organizamos e pronto, simples assim. E, de sobremesa, tem o fondue de chocolate, onde você tem várias frutas picadas numa tigela, e uma panelinha com chocolate quente derretido. Muito saboroso e romântico, super combina com inverno. Dá água na boca só de lembrar…
Quanto ao centro turístico, nós demos uma rodada por lá, sozinhos mesmo. Almoçamos num lugar que não valeu a pena, nem lembro o nome. Vimos algumas lojas de roupas e calçados. Tem várias por lá, que não tem grande diferença de uma pra outra, eu e Júlio compramos casacos e comprei uma bota também. Não foram tão caros, mas a qualidade também não foi tão boa, mesmo assim vale a pena dar uma olhada! Lá também tem várias lojas de chocolate, que vão desde caras até absurdamente caras. Seu Carlinhos nos indicou a Spinazi. O detalhe é que dependendo de que altura do centro você esteja, a filial da Spinazi tem preços diferentes. Nós acabamos comprando na intermediária e depois descobrimos que mais à frente tinha outra um pouco mais barata. Acho que o quilo custava quase R$70, por isso compramos pouquinho, mas confesso que me arrependi de não ter comprado mais quando o chocolate acabou… Ali não podem entrar carros, então fomos andando e perguntando: quais eram os tipos de loja, onde ficava a Spinazi, etc, e nos viramos bem. No outro dia tive que voltar para trocar o casaco cujo zíper arrebentou, mas consegui sem maiores problemas.

Bem, espero não ter esquecido nenhum detalhe. O resumo é que Campos do Jordão tem muita atração  visual, mas também tem muita coisa que dá para pessoas cegas curtirem tranquilamente, e o atendimento e auxílio no geral é ótimo, o que faz com que você não precise se preocupar em ter que ficar resolvendo problemas ou convencendo pessoas. É uma cidade agradável, tranquila, romântica, que vale muito a pena conhecer!

2 comentários

  • Sarah, excelente seu post e dicas, nos deixou com muita vontade de ir para Campos de Jordão e curtir todas essas coisas. Quanto a questão do transporte, você tem toda razão, se a pessoa estiver sem carro… Seja qual for o motivo, vai gastar uma grana de taxi mesmo. Mas, sempre há o lado bom, pois, pode se encontrar taxistas que dão boas dicas e ajudam bastante como ocorreu com vocês.

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