Voando às cegas: Sensações ao Viajar de Avião
Olá pessoal,
Vocês por acaso têm curiosidade de saber como é um avião e qual a sensação de voar?
Antes da minha primeira viagem, eu tinha. Já o Marlon, quando fez seu primeiro voo, gostaria de ter tido uma descrição diferenciada, pois as perguntas insistentes que ele fez meio que irritaram as pessoas que estavam com ele, que naquele caso eram da empresa onde trabalhava.
Bem, se vocês chegaram até aqui acredito que tenham curiosidade sim, então fiquem ligados, porque neste post vamos contar tudo sobre o assunto de uma forma que nunca vimos alguém descrever para quem não enxerga.
Claro que essas são apenas nossas vivências e que neste post tentamos compilar tudo o que lembramos ou sabemos. As experiências de outras pessoas podem ser diferentes. Este também não é um guia oficial, visto que os detalhes relacionados aos procedimentos de embarque e de voo podem variar conforme o aeroporto e o país. Para saber mais sobre tais procedimentos, deve-se efetuar uma pesquisa específica nos sites dos aeroportos, companhias aéreas e agências reguladoras.
Antes do embarque
O setor de embarque do aeroporto normalmente é um grande saguão onde estão os balcões das companhias aéreas. Este ambiente costuma ser bastante desorientador e, dependendo do dia e horário, pode estar lotado de pessoas.
Quando se está sozinho, nossa sugestão é que se procure por um funcionário ou por um balcão mais próximo da entrada. A ideia é entrar em contato com alguém que trabalhe no aeroporto e que saiba guiar até o guichê correto ou que ao menos consiga solicitar auxílio de maneira efetiva.
Lembrando que aeroportos podem ser confusos para usuários ou pessoas que eventualmente estejam por ali, portanto pedir ajuda a quem não conhece o local pode colocar a viagem em risco.
Por exemplo, uma vez um motorista da Uber nos deixou no saguão de desembarque, acreditando que era o embarque. Só fomos saber do equívoco quando falamos diretamente com alguém que trabalhava no local. Os usuários com quem tentamos conversar anteriormente nem tinham se ligado que não achavam a placa do balcão da compania simplesmente porque estávamos no saguão errado.
Lembrando também, que cada um é o responsável pela sua viagem. Uma vez, o Marlon solicitou ajuda para um funcionário da Infraero que pediu a ele que aguardasse e desapareceu. Quando o tempo para embarcar ficou perigosamente curto, ele precisou abordar um usuário e pedir que este tentasse achar qualquer placa da companhia pela qual iria viajar, mais ou menos a estratégia que sugerimos acima. Pedir por ajuda de funcionários é sempre o melhor a fazer, mas às vezes é necessário se ligar de que esta ajuda não virá e reagir.
O processo de check in serve para dizer a companhia aérea que o passageiro está presente e vai pegar o voo de acordo com o planejado. Ele pode ser feito on-line, e os sites das principais companhias aéreas do país são razoavelmente acessíveis para esta funcionalidade. Quando se tem bagagens além das malas de mão, mesmo se fizer o check in online, é necessário ir até o balcão para despachá-las. Quando se opta por fazer o check in diretamente na companhia, ao se identificar, o atendente vai preparar o cartão de embarque, e pedir para que se coloque as malas na esteira.
Nesse momento, as malas são pesadas e, se o peso estiver dentro do limite permitido, pega-se uma etiqueta com um número de referência. Outra igual estará colada na mala que foi despachada.
A mala de mão deve ser mantida com o passageiro. As malas despachadas nem sempre são bem tratadas no processo de carga e descarga na maioria dos voos e podem chegar quebradas, adulteradas ou mesmo não chegar ao destino final, o que chamamos de extravio. Por isso, indicamos não deixar aparelhos eletrônicos tais como laptops e câmeras em malas despachadas. Idealmente, esses equipamentos e ao menos uma troca de roupas devem ser mantidos de maneira segura na mala de mão. Nem vamos falar de documentos, como passaportes etc.
Outrossim, só se leva nessa mala objetos autorizados. Consultar o regulamento.
Após fazer o check in, a pessoa com deficiência visual viajando sozinha deve comunicar ao funcionário no balcão que precisa de auxílio para embarcar.
Quem estiver até esse momento acompanhado, chegou a hora de se despedir de quem te trouxe até aqui.
Embarque
O acompanhante da compania conduz o passageiro com deficiência por todo o processo de embarque.
A primeira etapa é passar pelo detector de metais. Ao chegar a um primeiro ponto de controle o cartão de embarque é validado. Depois, se percorre um corredor onde há uma espécie de mesa com diversas cestinhas lembrando aquelas de supermercado, e nessas devem ser depositados os pertences, inclusive os metálicos como a bengala. Se tiver laptop na mala de mão, esse deve ser retirado e também colocado em uma delas.
Depois disso, se deita as bandejas em uma esteira que as conduzirá pelo equipamento de raio x.
Por vezes, pedem para tirar os sapatos e o cinto, por vezes não.
Ao lado da esteira, que corre por cima de uma espécie de trilho, existe o detector de metal. Quando autorizado, a pessoa caminha em frente e passa por um portal. Se houver algo suspeito de metal no seu corpo, o equipamento vai apitar. O operador então pode solicitar que se volte e retire algo que tenha esquecido de colocar na bandeja, tipo chaves no bolso ou algo similar.
Este momento é tenso, pois é necessário andar reto em frente e a pessoa cega está sem a bengala.
Certa vez, o agente perguntou ao Marlon se ele precisava de ajuda para passar. Ele não só recusou a ajuda,como me disse para seguí-lo e avançou confiante até atropelar o equipamento e disparar metade dos alarmes do aeroporto inteiro, ou ao menos foi essa a impressão que tive.
Nos Estados Unidos me pediram para ficar parada no meio do detector, abrir as pernas e levantar as mãos, ou seja, cada situação é única.
às vezes os agentes que estão do outro lado do portal estendem a mão e a gente avança baseado nisso, outras vezes não. Por via das dúvidas, costumamos pedir para o acompanhante, que normalmente passa primeiro, conversar conosco quando estivermos prestes a passar para que possamos seguir o som de sua voz e alinharmos a reta.
Enquanto a pessoa passa pelo detector de metal, as malas passam pelo raio x e essas podem ou não ser vistoriadas.
Um dia, pediram para ficarmos parados esperando e não nos disseram o que estava ocorrendo. Depois de algum tempo, me perguntaram se eu tinha comigo uma mala azul. Quando eu fui encostar na mala em questão para verificar se era minha, disseram “não toque”. Acontece que eu tinha pego uma bolsa emprestada de última hora de um amigo e não fazia ideia da cor, então é necessário ficar decorando as cores das malas? a vá… A meleca foi que eu tinha esquecido um creme dentro de um sapato que estava nesta mala e, claro, o creme foi devidamente jogado fora.
Uma revista física pode ocorrer se o detector de metais acusar algo. Essa revista também pode ser solicitada pelos agentes sem motivos aparentes. No Brasil eu nunca passei por esse processo.
No momento da revista, uma pessoa do mesmo sexo vai fazer a avaliação. Uma vez em Frankfurt, a mulher passou por todo o meu corpo um scanner na forma de luva, conforme ela passava a luvinha fazia um apitinho. Não se preocupe, não é uma apalpada, a pessoa nem encosta no seu corpo direito.
Depois de pessoas e malas devidamente aprovadas, é hora de se recompor. As bandejas seguem um pouco mais pela esteira e chegam a um balcão. Eu pego as minhas coisas e vou me recompor mais a frente para não bloquear a fila, já que atrás das nossas bandejas vem outras, com as coisas de outros viajantes. Geralmente tem bancos e mesinhas logo a frente justamente para isso mesmo.
Esse é sempre um momento bem delicado, acredito que poderíamos montar um post só com experiências no raio x.
Em seguida, se estiver deixando o Brasil, o controle federal registra a saída no passaporte e também no sistema. Isso é bem interessante, pois daquele momento em diante a pessoa já saiu do país oficialmente, mesmo estando em terra e dentro do aeroporto! Lembram do filme O Terminal?
Com tudo pronto, é hora de se encaminhar até o portão de embarque. Se for voo internacional, se passa pelas cheirosas lojas do free shop. Em voos nacionais também existem as lojas do free shop, só que não, porque ao se comprar algo paga-se o imposto normalmente. Ainda há nesse trecho bares, restaurantes, banheiros e tal.
Este caminho pode ser bem longo e incluir elevadores ou escadas rolantes. Existem várias placas e painéis eletrônicos que informam sobre os voos e seus respectivos portões.
Os portões de embarque são apenas portas na parede do saguão que dão para o finger ou para o embarque de vans na pista. Perto de cada um, existe um balcão de apoio onde os despachantes dos voos ficam.
Normalmente, o funcionário da compania deixa a pessoa com deficiência acomodada em uma cadeira próxima ao seu portão de embarque e avisa ao despachante responsável que ela ou ele precisará de auxílio para o embarque. Isso se chegar com antecedência e o voo ainda não estiver aberto, ou seja, se as pessoas ainda não estiverem autorizadas a embarcar. Nesse caso, eu recomendo que sempre se fique atento ouvindo quando elas começam a se movimentar, quem garante que os funcionários se comunicaram direito sobre alguém ir buscar o passageiro deficiente visual…
No momento propriamente dito do embarque, , novamente bilhete e documento são checados, e pronto, chega a hora de encarar de vez o avião!
Como dissemos, o embarque pode ser feito através do finger, ou diretamente na pista.
No primeiro caso, se entra no portão, seguindo por um corredor e chega no finger, em alguns lugares chamam de ponte.
O finger ou ponte é uma espécie de túnel que desce de um andar mais alto até o nível da aeronave. É estreito e fechado por todos os lados, às vezes é envidraçado. Parte desta rampa é de cimento e a parte que manobra para se acoplar ao avião é de metal. Essa parte tem algumas curvas, por isso o nome finger, que significa dedo em inglês. Conforme se vai descendo, vai aumentando o barulho do avião. A rampa termina em um pequeno degrau, que na realidade já é a porta da aeronave.
No segundo caso, se entra no portão, pega-se um ônibus ou van, anda-se uns minutinhos, para descer na pista, e subir na aeronave por uma escada.
Nesse embarque externo, dá para ver e ouvir bem mais o barulho das turbinas e ter uma ideia melhor da altura do avião, além de se ouvir bem o ruído impressionante de outras aeronaves que estão circulando pela pista.
As portas ficam nas laterais do avião. Ao entrar, após uns 2 passos, pode-se virar a esquerda ou a direita.
Ao entrar pela porta da frente, a esquerda vai estar a primeira classe, se houver, e então a cabine de comando.
Virando à direita, chega-se aos corredores estreitos entre as fileiras de assentos.
Os aviões internacionais costumam ter 3 blocos de fileiras, com 2, 3 ou 4 lugares em cada fileira. Geralmente o bloco do meio é o mais largo. Em modelos menores, pode haver somente um corredor com fileiras de 2 ou 3 lugares.
O comissário de bordo normalmente se apresenta e se põe à disposição.
Ao chegar na poltrona,descobre-se que ela é apertada em todos os sentidos, a não ser para os que viajam na primeira classe.
Acima do assento fica um painel, similar a um painel de ônibus de viagem, com alguns botões de luz, ventilação, campainha para chamar o atendente e tal. Também é ali que fica o compartimento de onde, em caso de despressurização, vão cair as máscaras de oxigênio. É imprescindível sabermos exatamente onde está o quadradinho desse compartimento.
Acima do painel há um bagageiro bem grande onde cabem as malas de mão.
Para a decolagem e o pouso, as malas devem estar guardadas nos bagageiros ou em baixo do banco da frente.
Nas costas desse banco da frente existe o bolsão, com um cartão de procedimentos de segurança, sacolinha para lixo ou para vômito, algumas revistas de viagem e os catálogos de produtos. Logo acima fica a mesinha de refeição dobrada. Na hora do rango ela deve ser puxada e aberta, para então se brincar de equilibrista. Acima da mesinha fica a televisão, se tiver é claro e geralmente com uma tela touch inacessível. Perto da TV podem existir tomadas e também entradas USB.
No braço da poltrona, pode haver uma entrada para fones de ouvido.
Além disso, geralmente há botões para controlar o volume do áudio e luz, além da campainha. Ultimamente as companias estão disponibilizando uma programação via aplicativo que pode ser baixado no celular.
Todas essas coisas podem e devem ser perguntadas ao atendente. Também vamos frisar que geralmente as companias possuem um libreto de segurança em braille. É importante lê-lo e aprender o básico para qualquer emergência. Falando em emergência, sempre deve se questionar onde estão as saídas de emergência mais próximas em termos de fileiras. Quantas fileiras para frente ou para trás e de qual lado da aeronave.
Os banheiros são apertados, mas quebram bem o galho. É normal não acharmos onde fica a porcaria do botão da descarga, portanto é sempre bom perguntar antes de fechar a porta.
Decolagem
Quando o avião entra nos procedimentos de decolagem, ele começa a se movimentar lentamente. Se for necessário andar de ré para se alinhar, ele vai ser puxado por um carrinho chamado pushback. Vai andar um pouco, fazer curvas e tal. Quando o comandante anuncia que a decolagem foi autorizada, ele faz uma curva final, se posiciona na pista e começa a acelerar. A sensação é de ser jogado contra o encosto da poltrona e parece que o avião está subindo uma ladeira, pois a velocidade aumenta muito. Nesse momento em que as turbinas são acionadas o barulho é intenso, o bichinho treme um pouco e às vezes muito. Em mais alguns instantes, vai dar para sentir que ele saiu do chão, porque param as vibrações das rodas e agora a poltrona meio que te empurra para cima, tipo um elevador muito rápido, só que com a capacidade de fazer curvas.
Para quem consegue relaxar, a sensação é bem gostosa e os que estão nesse grupo são todos peças raras!
O zumbido dos motores vai permanecer durante quase todo o voo, diminuindo ligeiramente quando o avião se estabiliza em rota de cruzeiro e diminuindo ainda mais na descida. Agente, principalmente o Marlon, imagina que terá que conviver com aquele barulho durante poucas ou muitas horas e fica levemente exasperado, mas depois agente, ou ele, pensa que enquanto aquele som estiver lá significa que o avião ainda está funcionando, e até que nem acha tão ruim assim.
Em Rota de Cruzeiro
Alguns minutos após a decolagem, o comandante dá um sinal sonoro, o mesmo tum de chamar o comissário, informando a tripulação de que a decolagem acabou, o aviso de atar cintos é apagado, e agora o avião está em rota de cruzeiro, estabilizado em altitude.
A partir desse ponto, a circulação de pessoas pela aeronave está liberada.
Em um cenário onde não há turbulências, quase não se percebe o movimento do avião, porém, se sente as curvas. Se começarem as turbulências,, vai soar o tum de novo, acendendo o aviso de atar cintos. O mesmo aviso sonoro vai soar quando as turbulências acabarem e a movimentação na aeronave estiver permitida novamente.
Como o som de chamada do comissário é, na via de regra, igual ao desses avisos, sugerimos perguntar para alguém se estes estão ativos caso seja necessário se levantar ou se esteja com o sinto aberto. Entretanto, mantenha o sinto afivelado sempre que não precisar se movimentar .
Afim de escapar dessas turbulências, o avião pode variar de altitude. A gente consegue perceber isso, ou pela poltrona te forçando para cima, ou por um leve frio na barriga mais uma descida pequena.
As turbulências são sentidas como pequenos chacoalhos, como se estivesse andando de carro em uma rua de paralelepípedo mas sem sentir o chão. Os chacoalhos podem ficar mais fortes, parecendo com pequenos trancos secos dependendo da intensidade da turbulência. Durante esses períodos, pode haver perda repentina de altitude e por isso o cinto de segurança deve sempre estar afivelado.
Se o trajeto for longo, um serviço de bordo gratuito é oferecido. Este é o momento de abrir a mesinha e gerenciar tudo aquilo que o comissário colocar nela. Como não pode entrar com água na aeronave, eles servem-na ao longo da viagem.
Durante o percurso, o comandante geralmente passa informações sobre o tempo, horário de chegada e outras informações técnicas.
Aterrissagem
Cerca de uns 40 minutos antes do pouso, a aeronave já inicia os procedimentos de aproximação, quando está ainda a cima das nuvens.
Dá para ouvir o barulho dos motores diminuir, e o chão se inclina ligeiramente para frente.
Novamente o avião se estabiliza e às vezes faz algumas curvas, para novamente descer mais um pouco e pode fazer mais curvas. O barulho dos motores aumenta sempre que o avião se estabiliza e diminui sempre que ele estiver descendo.
Em algum momento o aviso de atar cintos é ligado. Quando o trem de pouso é acionado, sente-se uma trepidação e se escuta um ruído vindo de baixo.
Na descida final, se sente um certo bum,, e então o avião correndo muito no chão. Nesse instante os motores estão em uma potência muito grande enquanto o reverso é ligado. Agente é jogado um pouco para frente, até que se ouve o reverso diminuir, o que significa que a velocidade foi controlada e dá para perceber uma certa freada, pois só após o reverso ser desligado que o freio mecânico das rodas é acionado. Momento de maior alívio da viagem!
O avião circula mais um tempo pela pista até chegar ao ponto em que estaciona. O aviso de atar cintos é desligado e, depois de um certo período de espera enquanto o finger ou a escada são acoplados {a porta, esta é finalmente aberta iniciando o desembarque.
É padrão o comissário pedir que se aguarde a saída dos demais passageiros, para então alguém vir auxiliar. Após o desembarque, segue-se com o funcionário até a esteira que estiver recebendo as bagagens do voo. Provavelmente vão perguntar a cor da mala, que geralmente é de cor muito comum e acaba não ajudando em nada.
Em viagens internacionais, após retirar a bagagem, passa-se pela alfândega, momento em que o fiscal pode solicitar ou não uma revista no conteúdo das malas. EM viagens domésticas, se vai diretamente para a sala do desembarque.
Fim de nossa viagem! Espero que tenham aproveitado.. Nos encontramos em algumas semanas, quem sabe em um navio transatlântico!